O cenário do futebol brasileiro, frequentemente palco de debates acalorados sobre a atuação de seus protagonistas, adiciona mais um capítulo de tensão após as recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). A punição aplicada a dois profissionais da arbitragem, em virtude de lances cruciais em uma partida de grande relevância, reacendeu a discussão sobre a proporcionalidade das sanções e o sentimento de desamparo que parece pairar sobre os homens do apito. A controvérsia gira em torno de uma suspensão de 40 dias imposta ao árbitro principal e ao responsável pelo VAR, evidenciando a gravidade com que a entidade máxima do esporte no país enxerga determinados equívocos em campo. A decisão, embora ainda passível de recurso, já gera repercussão e levanta questionamentos sobre a forma como os erros são julgados e as punições são aplicadas no contexto do futebol nacional.
Punição severa no horizonte da arbitragem
A notícia que agitou os bastidores do futebol brasileiro nos últimos dias foi a oficialização da suspensão do árbitro Ramon Abatti Abel e do árbitro de vídeo Ilbert Estevam da Silva. Ambos foram afastados de suas funções por um período de 40 dias, como consequência direta de suas atuações no clássico disputado entre São Paulo e Palmeiras, no estádio do Morumbis, válido pelo Campeonato Brasileiro. A 2ª Comissão Disciplinar do STJD foi a responsável por aplicar a sanção, que, embora ainda possa ser objeto de recurso perante o Pleno, já representa um duro golpe na carreira dos profissionais. A lógica por trás da contagem dos dias de afastamento é clara: 20 dias foram atribuídos pela não marcação de um pênalti que, segundo a análise da comissão, deveria ter sido assinalado a favor da equipe do Palmeiras. Adicionalmente, outros dez dias foram somados para cada lance de expulsão que, na visão da entidade, foi ignorado em campo, referindo-se às situações envolvendo Andreas Pereira e Gustavo Gómez. O embasamento legal para a denúncia recai sobre o artigo 259 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que versa sobre a conduta de “deixar de cumprir as regras da modalidade”, um indicativo da seriedade com que os erros de arbitragem estão sendo tratados.
Dirigentes também sentem o peso das declarações
Paralelamente à suspensão dos árbitros, a esfera diretiva do São Paulo também foi impactada pelas repercussões do confronto. Na mesma sessão de julgamento, os dirigentes do clube paulista, Rui Costa e Carlos Belmonte, foram alvo de advertências. Essas reprimendas foram motivadas por declarações proferidas pelos mesmos, que abordaram de forma crítica a atuação da equipe de arbitragem durante a partida. A decisão de advertir os dirigentes demonstra que o STJD também busca manter um controle sobre o discurso público em relação aos homens do apito, visando, de certa forma, blindá-los de ataques considerados desproporcionais ou que possam desestabilizar o ambiente esportivo.
O cerne da polêmica: erros de interpretação ou falhas escandalosas?
A argumentação que sustentou a punição aos árbitros foi enfática e direta. O relator do caso, Luiz Gabriel Batista Neves, deixou clara a sua posição ao afirmar que “nós temos que respeitar as decisões de campo. Não cabe à Justiça Desportiva revisar as decisões da arbitragem. Mas os erros não são de interpretação“. Essa declaração é crucial, pois estabelece uma linha tênue entre os equívocos que podem ser atribuídos à subjetividade inerente à função do árbitro e aqueles que são considerados manifestamente falhos e escandalosos. O relator prosseguiu, reforçando a gravidade dos lances em questão ao descrevê-los como “erros escandalosos“. Para ele, o fato de a Justiça Desportiva não intervir em todas as decisões de campo não significa que não tenha o poder de punir quando os erros são de magnitude tão elevada. Essa distinção é fundamental para entender a base da sanção imposta, que não se trata de uma mera divergência de opinião sobre a aplicação de uma regra, mas sim de falhas que, na ótica do tribunal, comprometeram a lisura da partida.
O sentimento de desproteção na classe arbitral
O desdobramento mais preocupante desta situação, conforme apurado por reportagem especializada, reside na reação da vasta maioria dos árbitros que atuam no futebol brasileiro. Há um sentimento generalizado de revolta e de que “a corda sempre estoura para o lado mais fraco”. Essa percepção se fundamenta na constatação de que, enquanto jogadores que cometem infrações graves muitas vezes conseguem obter acordos que lhes permitem continuar atuando em campo, os árbitros, ao serem apontados em erros considerados graves, enfrentam suspensões e afastamentos mais severos. Essa disparidade no tratamento das punições tem gerado um forte sentimento de desproteção entre os profissionais da arbitragem. A temporada atual tem sido marcada por uma série de erros de grande repercussão, o que, somado a essa nova decisão, intensifica a sensação de insegurança e desamparo. A ausência de um respaldo que os proteja de forma mais efetiva, ao mesmo tempo em que são cobrados por decisões impecáveis, alimenta essa polêmica e levanta sérias dúvidas sobre o futuro e o bem-estar dos responsáveis por conduzir as partidas em solo brasileiro.

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