O Sport Club Corinthians Paulista deu um passo significativo em sua reestruturação financeira e administrativa. Uma proposta de reforma do estatuto do clube foi apresentada, abrindo caminho para a eventual transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). No entanto, a proposta é rigorosa, estabelecendo pré-requisitos e garantindo que o controle majoritário permaneça com os associados do clube. A notícia gerou debates intensos tanto nos bastidores quanto entre a apaixonada torcida corintiana, conhecida como a Fiel.
A Tramitação da SAF no Parque São Jorge
O anteprojeto, que detalha as minúcias dessa possível metamorfose, foi divulgado oficialmente em um evento nesta segunda-feira. A expectativa é que o documento seja submetido à apreciação do Conselho Deliberativo e, posteriormente, à Assembleia Geral de Sócios ainda no corrente ano. A inclusão de artigos específicos sobre a SAF demonstra a seriedade com que a diretoria tem abordado essa questão, que pode moldar o futuro do Corinthians por décadas. Um dos pontos cruciais do texto é que a transformação em SAF precisará, em primeira instância, da aprovação do Conselho de Orientação (Cori) e do Conselho Deliberativo. Para que o projeto avance, será necessário o voto favorável de dois terços de todos os conselheiros. Essa exigência eleva o nível de consenso necessário, refletindo a importância da decisão para o clube.
Para além da aprovação dos conselhos, o processo para a criação da SAF exigirá uma auditoria independente robusta. Essa auditoria será de caráter técnico e multidisciplinar, com o objetivo de realizar uma verificação detalhada e minuciosa de todas as esferas do clube. Serão examinadas a situação econômica, financeira, contábil, jurídica, trabalhista, tributária, contratual, ambiental e patrimonial do Corinthians. A operação proposta para a formação da SAF também passará por esse escrutínio. Somente após a conclusão satisfatória dessa auditoria e a subsequente aprovação do Cori e do Conselho Deliberativo, o projeto será encaminhado para a deliberação final da Assembleia Geral. Nesse estágio decisivo, será exigido um quórum qualificado de dois terços dos associados com direito a voto para que a proposta seja aprovada e a transformação em SAF possa se concretizar. Essa cascata de aprovações visa garantir que a decisão seja tomada com o máximo de cautela e respaldo.
O Controle Majoritário e a Identidade Corintiana
Um dos pilares da proposta de reforma estatutária é a salvaguarda do controle do clube. Conforme um dos artigos mais enfáticos do anteprojeto, é expressamente vedada, em qualquer cenário, a aquisição do controle majoritário da SAF por investidores externos. A intenção clara por trás dessa cláusula é assegurar que a gestão e o controle institucional permaneçam firmemente nas mãos dos associados do Corinthians. O objetivo é preservar a identidade, a tradição e a rica história do Sport Club Corinthians Paulista, valores que são caros à sua imensa torcida. Essa garantia visa evitar que o clube perca sua essência e se torne meramente um empreendimento financeiro desprovido de suas raízes.
O anteprojeto detalha ainda mais essa proposta, estipulando que o Corinthians, mesmo transformado em SAF, reterá 51% do capital social da sociedade empresária que assuma a operação. Isso significa que o clube manterá a participação majoritária, reforçando o controle dos associados. Adicionalmente, a proposta prevê que, no mínimo, 10% da receita líquida gerada pela sociedade empresária deverão ser obrigatoriamente destinados ao Corinthians. Essa medida garante que o clube, como instituição, continue a se beneficiar financeiramente da operação da SAF, possibilitando investimentos em diversas áreas, como estrutura, base e modalidades esportivas. O presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, em entrevista coletiva, enfatizou que o parecer do Cori terá caráter de recomendação, não sendo vinculante. Ele também esclareceu que o quórum de dois terços se refere ao total de conselheiros e associados participantes da votação, e não ao número total de membros com direito a voto, um detalhe técnico relevante para o processo.
A Voz da Torcida e o Projeto “SAFiel”
A discussão sobre a transformação do Corinthians em SAF não se limita aos corredores do clube. A torcida corintiana tem se mostrado cada vez mais engajada e participativa nesse debate. Apesar de a proposta de SAF encontrar resistência por parte de alguns conselheiros e associados, ela tem aquecido as discussões e estimulado a busca por novas alternativas. Nesse contexto, surge o projeto “SAFiel”, uma iniciativa que promete dar voz e participação direta aos torcedores nesse processo. O anúncio oficial do “SAFiel” está previsto para esta terça-feira, em um evento a ser realizado no Museu do Futebol. Essa iniciativa tem como objetivo principal a participação dos torcedores como acionistas da futura SAF, democratizando o acesso e o envolvimento da massa corintiana.
Os representantes do “SAFiel” têm trabalhado ativamente nos últimos meses, buscando apresentar sua proposta e dialogar com diferentes setores do clube e com as torcidas organizadas. Reuniões foram realizadas com lideranças, incluindo o presidente Osmar Stabile e o próprio presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior. O objetivo é construir um consenso e garantir que a torcida, o maior patrimônio do clube, seja ouvida e tenha seus interesses representados. Personalidades ligadas ao Corinthians, como Ronaldo Fenômeno, já manifestaram suas opiniões sobre a SAF. Em diferentes momentos, o ex-jogador demonstrou interesse em investir no modelo, embora tenha posteriormente declarado não ter mais o desejo de atuar diretamente na gestão futebolística. A discussão sobre a SAF no Corinthians é, portanto, multifacetada, envolvendo aspectos financeiros, administrativos e, fundamentalmente, o sentimento e a participação da sua torcida.

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