Nos bastidores do Corinthians, uma intensa disputa política pelo controle do departamento de futebol tem gerado um clima de incerteza em relação ao futuro, especialmente no que diz respeito a contratações. A tensão se manifesta entre conselheiros influentes e os profissionais que atuam no CT Dr. Joaquim Grava, com o presidente Osmar Stabile no centro da pressão para demitir o executivo de futebol, Fabinho Soldado. Apesar das cobranças, Stabile tem demonstrado firmeza em manter Soldado no cargo, o que implica na ausência de uma nova figura estatutária para chefiar a pasta.
Fabinho Soldado assumiu a responsabilidade integral pelo departamento de futebol em maio de 2024, após a saída de Rubens Gomes, o Rubão, que deixou o posto de diretor em meio a divergências com o então presidente Augusto Melo. Desde então, Soldado tem sido a figura central na gestão do futebol corintiano, enfrentando desafios e críticas em relação às suas decisões e ao desempenho da equipe.
A Insatisfação dos Conselheiros e a Visão Política
No cenário político do Parque São Jorge, sede social do clube, diversos conselheiros expressam descontentamento com a atuação de Fabinho Soldado. Uma das principais alegações é que o executivo estaria recebendo um salário elevado e detendo um poder excessivo para um profissional contratado externamente. Para esses críticos, o Corinthians necessitaria, mais uma vez, de um diretor estatutário, uma figura com maior peso e legitimidade política dentro da estrutura do clube, capaz de exercer um controle mais rigoroso sobre o funcionamento do departamento de futebol.
Historicamente, o cargo de diretor estatutário de futebol no Corinthians tem sido frequentemente utilizado como ferramenta política. Essas posições serviram, em diversos momentos, para fortalecer aliados de determinadas gestões ou para intermediar acordos e pacificar conflitos entre grupos rivais. Exemplos recentes incluem a parceria entre Augusto Melo e Rubão, Duilio Monteiro Alves e Roberto de Andrade, além de Andrés Sanchez e Duilio Monteiro Alves em administrações anteriores. Para um segmento mais pragmático entre os conselheiros insatisfeitos, a permanência de Fabinho Soldado, contratado durante a gestão de Augusto Melo, também levanta questionamentos, especialmente após a confirmação do impeachment deste último em agosto.
Evolução do Departamento e Críticas Recentes
Desde que assumiu a presidência em caráter interino, após o afastamento inicial de Augusto Melo em maio, Osmar Stabile tem implementado mudanças, desligando diversos profissionais ligados à gestão anterior. No entanto, Fabinho Soldado se tornou uma notável exceção a essa regra. Por essa razão, sempre que surgem problemas ou insatisfações no departamento de futebol, os críticos de Soldado intensificam seus pedidos por sua demissão.
O executivo de futebol tem sido alvo de críticas em episódios como a negociação do jovem Kauê Furquim com o Bahia, a falta de contratação de reforços adicionais antes da imposição do transfer ban, e as recentes ausências de jogadores como Memphis Depay e José Martínez em sessões de treinamento. As críticas se estendem também à montagem e ao custo do elenco atual. Na última janela de transferências, por exemplo, a única contratação efetiva foi a do atacante Vitinho, antes que a proibição de registrar novos atletas entrasse em vigor. Atualmente, a folha salarial do futebol corintiano gira em torno de R$ 20 milhões, um valor considerado exorbitante pelos críticos, especialmente em um momento em que o time tem dificuldades no Campeonato Brasileiro, sem conseguir emplacar uma sequência de vitórias após 29 rodadas.
A Fortaleza do CT e o Respaldo dos Jogadores
A 12 quilômetros de distância do Parque São Jorge, o CT Dr. Joaquim Grava opera como um universo à parte dentro do Corinthians. Por decisão de Fabinho Soldado, o acesso ao local é restrito a torcedores, associados e conselheiros, com a permissão de entrada limitada ao presidente, diretores e funcionários essenciais. É nesse ambiente, longe das pressões políticas da sede social, que Fabinho encontra sua principal base de apoio.
Internamente, o executivo é descrito como um profissional sério e formal, frequentemente visto em trajes sociais. Apesar de sua postura rígida, Soldado conquistou a confiança e o respeito do elenco ao cumprir acordos firmados, manter os jogadores informados sobre as turbulências políticas e lidar com habilidade em situações delicadas, como as já mencionadas ausências de Memphis e Martínez. Jogadores e funcionários do CT frequentemente elogiam o trabalho de Soldado. André Jorge, ex-chefe do departamento médico, destacou em recente entrevista a importância de Fabinho para o bom funcionamento do futebol do clube.
O capitão do time, Hugo Souza, foi enfático ao defender Fabinho Soldado após a vitória sobre o Atlético-MG, na Neo Química Arena. Ele ressaltou o papel do executivo em criar um ambiente propício para o trabalho da equipe e pediu respeito pelo seu trabalho, tanto por parte da torcida, quanto do conselho, diretoria e presidência. Hugo Souza também atribuiu a Fabinho parte do mérito na conquista do Campeonato Paulista, encerrando um jejum de seis anos, e na campanha atual, que inclui a chegada a mais uma semifinal da Copa do Brasil. Ele enfatizou que, para quem acompanha o dia a dia, o trabalho de Fabinho é digno de enaltecimento, e não de críticas que possam prejudicar o clube.
A Política de Blindagem e a Luta pela Permanência
O respaldo público e a lealdade demonstrada pelo elenco a Fabinho Soldado servem como um importante pilar para sua permanência no cargo. Essa forte ligação com os jogadores cria um cenário onde uma eventual demissão antecipada do executivo poderia gerar uma crise interna, potencialmente prejudicando o principal objetivo do clube na temporada. Por essa razão, os rumores que circulam sugerem que qualquer decisão sobre a saída de Soldado só ocorreria ao final do ano, após a conclusão da Copa do Brasil, em dezembro.
Fabinho Soldado, apesar de tentar se manter alheio às disputas políticas que ocorrem no Parque São Jorge, encontra-se em uma posição de constante pressão interna. Osmar Stabile, que tem buscado equilibrar sua gestão com base nos apoios políticos obtidos durante a eleição indireta no Conselho Deliberativo no final de agosto, se vê em uma encruzilhada, tentando conciliar as demandas dos conselheiros com os sinais vindos do CT. A posição de Stabile, expressa em conversas reservadas, é clara: “Fabinho está mantido. Quem manda é o presidente”.

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