Uma paixão centenária que atravessa o Atlântico e se reacende no interior paulista. A história de Juan Vecino, um uruguaio de 65 anos, é um testemunho do poder do futebol em conectar pessoas e criar laços inquebráveis. Morador de Bálsamo, cidade vizinha a Mirassol, Vecino se prepara para vivenciar um momento especial neste sábado: a presença no Estádio Campos Maia para assistir ao confronto entre Mirassol e Botafogo, válido pela 31ª rodada do Brasileirão. Sua jornada de amor pelo Glorioso, iniciada há mais de cinco décadas em Montevidéu, ganhou contornos ainda mais fortes após sua mudança para o Brasil em 2007.
A Semente da Paixão Alvinegra: Manga, o Elo Inicial
A raiz da devoção de Juan Vecino ao Botafogo remonta a 1969, em sua terra natal, o Uruguai. O grande goleiro Manga, um dos maiores ídolos da história alvinegra, vestia a camisa do Nacional de Montevidéu e colecionava títulos expressivos, incluindo a Copa Libertadores da América e o Mundial Interclubes. A proximidade de Manga com a família de Vecino, especialmente com sua mãe e padrasto, foi o ponto de partida. As conversas e relatos sobre o lendário arqueiro ecoavam em sua casa, plantando a semente do que se tornaria um amor profundo pelo clube carioca. Mesmo com a mudança para o Brasil, a influência de Manga foi crucial para solidificar essa afinidade, mantendo viva a chama botafoguense em meio às pressões sociais para que ele se tornasse torcedor de equipes locais.
Do Uruguai ao Interior de São Paulo: Uma Fidelidade Inabalável
A vinda de Vecino para o Brasil, inicialmente como correspondente de rádio, não se concretizou profissionalmente como esperado. No entanto, o destino o manteve em terras brasileiras, mais precisamente em São Paulo. Embora amigos e familiares tentassem seduzi-lo com os encantos de times paulistas tradicionais como Santos, Palmeiras e Corinthians, a lealdade de Juan ao Botafogo se manteve inabalável. Ele relata que a própria vivência em São Paulo, longe do Rio de Janeiro, acabou por fortalecer ainda mais seus laços com o clube. A paixão se tornou ainda mais palpável com a chegada de outro ídolo uruguaio, Loco Abreu, que protagonizou uma passagem memorável pelo Glorioso na mesma época em que Vecino se mudou para o Brasil. Essa coincidência reforçou sua admiração e o impulsionou a se tornar sócio-torcedor e membro ativo da Sampafogo, uma torcida organizada do Botafogo no estado de São Paulo, solidificando sua história com o clube.
Experiências Memoráveis: De Montevidéu a Pelotas
Apesar das dificuldades geográficas que muitas vezes o impedem de acompanhar o Botafogo de perto no Rio de Janeiro, Juan Vecino coleciona momentos marcantes ao lado do time. Ele esteve presente em uma partida crucial na histórica temporada de 2024: a semifinal da Libertadores contra o Peñarol, em Montevidéu, onde o Botafogo, apesar da derrota por 3 a 1, garantiu a classificação para a final após a goleada no jogo de ida. Essa foi uma oportunidade única, aproveitando uma visita à sua família. Outro feito inesquecível foi a presença em Pelotas, em 2021, para celebrar o título da Série B contra o Brasil de Pelotas. Essa demonstração de devoção se estende para além do time principal. Todos os anos, em janeiro, Vecino dedica seu tempo a acompanhar a Copinha, o Campeonato Paulista de Futebol Sub-20, onde o Botafogo costuma marcar presença. Onde quer que o time jogue, ele e sua esposa estão lá, demonstrando um comprometimento admirável.
Conexões Uruguais e Ídolos da Geração
A conexão de Juan Vecino com o Botafogo se estende aos jogadores uruguaios do elenco atual. Ele mantém contato com Santi Rodríguez e Mateo Ponte, jogadores que acompanhou em suas trajetórias iniciais. Vecino já conhecia Santi Rodríguez desde os tempos de Nacional, em Montevidéu, e aproveitou a estadia do Botafogo em São José do Rio Preto para reencontrar o jovem atleta e também Mateo Ponte, que possui um currículo impressionante, sendo campeão brasileiro, sul-americano e mundial sub-20 pelo Uruguai. A admiração de Juan Vecino se estende a figuras-chave do Botafogo de 2024. Ele expressa saudade do time que lutou por títulos e elege Igor Jesus como seu “ídolo da geração”, além de exaltar o trabalho do técnico português Artur Jorge, considerado fundamental para o sucesso da equipe. Essa conexão com os jogadores, tanto os consagrados quanto os emergentes, fortalece ainda mais o sentimento de pertencimento de Vecino ao clube.
O Futebol Brasileiro e a Paixão pela “Celeste”
Aos 65 anos, Juan Vecino demonstra um profundo respeito pelo futebol brasileiro, em especial pela lendária seleção tricampeã mundial no México em 1970, época em que ele tinha apenas dez anos. Ele cita a Seleção de 70 como um marco inigualável no futebol, comparando-a e exaltando Pelé como o maior jogador de todos os tempos, com Maradona logo em seguida. No entanto, sua lealdade inegociável reside na “Celeste Olímpica”, a seleção uruguaia. Embora admita acompanhar o Brasil e a Argentina após a eliminação do Uruguai, em virtude de ser um sul-americano, seu coração bate mais forte pela sua seleção nacional. Essa tríplice devoção – a Seleção Uruguaia, o Botafogo e o pequeno clube Progreso de Montevidéu – define o universo futebolístico de Juan Vecino, um torcedor que transcende fronteiras e encontra na paixão pelo esporte uma razão para celebrar e se conectar.
Com a expectativa de uma vaga na próxima edição da Copa Libertadores, Juan Vecino antecipa um resultado positivo para o Botafogo em Mirassol. Com confiança, ele aposta em uma vitória alvinegra por 2 a 0, com direito a um gol e uma assistência de Santi Rodríguez, e outro tento de Tiquinho Soares. Essa previsão demonstra o otimismo e a fé do torcedor em mais um capítulo vitorioso para o Glorioso.

Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores







