A relação entre a SAF Botafogo e a empresa Eagle está longe de um desfecho pacífico, com disputas judiciais acirradas que giram em torno do controle e da gestão do clube carioca. Em um movimento recente, a Eagle apresentou uma nova petição, recorrendo a uma decisão que mantinha John Textor no comando da equipe. A companhia acusa o empresário americano de “atos abusivos e ilegais”, solicitando que ele seja impedido de tomar qualquer decisão sem a aprovação de um diretor independente. A Eagle alega dificuldades em obter clareza sobre a situação financeira atual do Botafogo, mas reconhece que declarações públicas sobre a necessidade de investimentos apontam para um cenário desafiador.
Uma dessas declarações veio do CEO da SAF, Thairo Arruda, durante uma reunião do Conselho Deliberativo. Ele afirmou que, embora haja caixa suficiente para honrar os compromissos até o final do ano corrente, novos aportes serão cruciais para que o clube possa manter um nível competitivo a partir de 2026. Complementando essa visão, uma nota oficial do próprio clube ressaltou a “iminente necessidade de injeção de novos recursos” para cumprir obrigações de curto e médio prazo e evitar que o planejamento e os investimentos da temporada atual sejam comprometidos.
Conflito de Confiança e o Exemplo do Lyon
É notório que a Eagle não deposita mais confiança em John Textor, apesar das declarações do empresário de que a disputa estaria encerrada. A raiz dessa desconfiança parece residir em sua experiência de gestão no Olympique Lyonnais, clube francês que também esteve sob sua administração. A Eagle aponta para uma série de irregularidades financeiras que ocorreram em Lyon durante a gestão de Textor, culminando, inclusive, em um rebaixamento administrativo. A empresa detalha, em ordem cronológica, declarações feitas por Textor antes da queda do clube francês à segunda divisão.
Em uma conferência de imprensa em 16 de novembro de 2024, Textor expressou convicção de que o Lyon não seria rebaixado, declarando publicamente que “não há nenhuma chance” disso acontecer, mesmo reconhecendo que a situação poderia gerar ceticismo. Pouco tempo depois, em 24 de junho de 2024, ele assegurou repetidamente sobre a solidez financeira do clube, afirmando que “graças às contribuições de capital dos nossos acionistas e à venda do Crystal Palace, nossa posição de caixa melhorou consideravelmente e temos recursos mais do que suficientes” para cumprir os requisitos regulatórios. No entanto, no mesmo dia, a DNCG (Direção Nacional de Controle de Gestão) anunciou o rebaixamento do Lyon para a segunda divisão francesa, citando preocupações com uma dívida expressiva, próxima a R$ 3,5 bilhões (aproximadamente 540 milhões de euros), e falta de transparência financeira. Em uma entrevista posterior, em 28 de junho, Textor ainda insistiu que o clube “nunca esteve tão líquido em caixa”, atribuindo parte da responsabilidade aos reguladores franceses e a conflitos internos.
O Papel dos Acionistas e as Implicações Financeiras
A Eagle também destaca que o processo de reversão do rebaixamento do Lyon contou com uma injeção financeira emergencial dos acionistas. Contudo, John Textor foi o único acionista que não contribuiu para essa capitalização. Durante a reestruturação do clube francês, foram identificadas falhas financeiras significativas, especialmente relacionadas a transações intragrupo, ou seja, negociações entre clubes pertencentes à mesma rede de gestão. O documento apresentado pela Eagle enfatiza que Textor “continua a usar e abusar do cargo de administrador da SAF Botafogo”, com interferências diretas na contratação, negociação e aprovação de transferência de bens, ativos e recursos financeiros da companhia para veículos de sua propriedade, visando interesses particulares.
Atualmente, não há previsão para um novo julgamento deste caso. No entanto, a Eagle e os demais acionistas envolvidos expressam profunda apreensão quanto ao futuro próximo do Botafogo. Essa instabilidade na gestão e as disputas legais podem gerar impactos negativos tanto na esfera esportiva quanto na financeira do clube, com potencial de afetar a rede de clubes sob a administração em questão como um todo. A situação exige atenção, pois a resolução dessas pendências é crucial para a estabilidade e o planejamento estratégico do Glorioso.
Impacto no Planejamento e na Competição
A incerteza jurídica e as divergências de gestão entre a SAF Botafogo e a Eagle têm um peso considerável no planejamento do clube. As declarações públicas de necessidade de novos aportes financeiros e a dificuldade em obter clareza sobre as finanças podem gerar um ambiente de instabilidade que reverbera diretamente no desempenho em campo e na capacidade de contratação de jogadores. A temporada atual e as futuras já sofrem a sombra dessa disputa, tornando a busca por soluções um imperativo.
A análise de especialistas, como Pedro Dep, aponta para Textor como um dos principais responsáveis por um possível prejuízo no planejamento de 2025 do Botafogo. Essa visão reforça a preocupação com as consequências a longo prazo das atuais contendas. Para os torcedores, a situação é igualmente angustiante, pois o futuro do clube parece oscilar entre promessas de grandeza e os perigos de uma gestão conturbada. A busca por transparência e por uma gestão eficiente é o que anseiam os alvinegros, a fim de ver o Botafogo consolidar sua posição e disputar títulos com regularidade.

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