O Botafogo não conseguiu impor seu ritmo e acabou tropeçando em um duelo direto na luta por uma vaga na próxima Copa Libertadores da América. Diante de um Mirassol determinado e que soube explorar as fragilidades alvinegras, o Glorioso não passou de um empate sem gols no Estádio Maião, em partida válida pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2025. O resultado, embora evite a derrota fora de casa, levanta preocupações sobre a postura e a efetividade da equipe comandada por Davide Ancelotti, que pareceu se contentar com o placar zerado.
Análise Tática: Um Botafogo Passivo e Sem Inspiração
Desde os primeiros minutos, ficou evidente que o Botafogo não apresentaria a intensidade necessária para buscar a vitória. Com um meio-campo povoado, mas sem entrosamento e com funções pouco claras, a equipe carioca pecou na transição da defesa para o ataque. Enquanto alguns jogadores recuavam excessivamente para iniciar a jogada, outros se lançavam sem a devida cobertura, deixando espaços perigosos para o Mirassol explorar. A falta de um jogador com a capacidade de armação e condução de bola foi notória, resultando em uma posse de bola estéril e na constante necessidade de correr atrás do adversário.
O técnico Davide Ancelotti escalou a equipe com Léo Linck; Vitinho, David Ricardo, Barboza, Alex Telles; Newton, Danilo, Marlon Freitas; Artur, Chris Ramos, Santi Rodríguez. Apesar da ideia de ter mais jogadores no setor de criação, as funções se sobrepunham ou se ausentavam, minando a fluidez do time. Danilo, por vezes, arriscava avançar como um ponta, mas a falta de um meia mais recuado para dar suporte deixava a equipe exposta. Marlon Freitas e Newton, por sua vez, atuavam muito próximos um do outro e dos zagueiros, dificultando a progressão da posse.
O Mirassol, por mais que não tenha feito uma partida brilhante, demonstrou maior organização e aproveitou a passividade do Botafogo para criar as melhores oportunidades. O time paulista dominou a posse de bola em diversos momentos e forçou o Botafogo a se defender e a correr atrás do prejuízo, confirmando a impressão de que a equipe carioca estava mais preocupada em não ser vazada do que em buscar o gol. A leitura de jogo da comissão técnica pareceu falha diante de um adversário que se mostrou competitivo.
Davide Ancelotti Expressa Incomodo com a Postura da Equipe
Após o apito final, o técnico Davide Ancelotti não escondeu seu descontentamento com a atuação de seus comandados. Em suas palavras, o empate foi um resultado positivo *pela forma como jogamos*, ressaltando que a equipe não atuou bem. Ele lamentou a perda rápida da posse de bola no primeiro tempo e, apesar de uma ligeira melhora na organização na segunda etapa, apontou a falta de coragem com a bola nos pés como um dos principais entraves. “Seguimos com pouca coragem com bola. Isso me deixa incomodado com o jogo de hoje. Faltou isso (coragem)”, declarou o treinador em coletiva de imprensa, evidenciando a frustração com a falta de iniciativa ofensiva.
A postura conformista do Botafogo foi ainda mais evidenciada pela ausência de alterações no intervalo. Apenas nos 20 minutos iniciais da segunda etapa, com o placar ainda zerado, Ancelotti promoveu mudanças no setor ofensivo, na tentativa de injetar mais criatividade e poder de fogo na equipe. No entanto, as substituições não surtiram o efeito desejado. Jeffinho e Arthur Cabral foram acionados nos lugares de Santi Rodríguez e Chris Ramos, respectivamente. O uruguaio Santi Rodríguez, um dos jogadores mais criativos do Botafogo no segundo semestre, foi deslocado para a ponta esquerda, uma posição onde não costuma render o seu melhor, culminando em uma atuação apagada.
Mirassol Pressiona e Botafogo Se Segura na Defesa
O Mirassol demonstrou ímpeto ofensivo e foi superior na criação de chances claras de gol ao longo da partida. A equipe paulista soube aproveitar os espaços deixados pela defesa botafoguense em alguns momentos e chegou a assustar a meta alvinegra. No entanto, a solidez defensiva, especialmente a atuação de Alexander Barboza, e as intervenções do goleiro Léo Linck foram cruciais para manter o placar em branco. A defesa do Botafogo se mostrou firme nos momentos de maior pressão, evitando que as investidas do Mirassol se transformassem em gols.
Um dos lances mais importantes da partida ocorreu no segundo tempo, quando Léo Linck realizou uma defesa espetacular em uma finalização à queima-roupa de Alesson, evitando o que poderia ter sido o gol da vitória para o Mirassol. Essa intervenção, juntamente com a atuação segura de Barboza na zaga, garantiu que o Botafogo saísse de Mirassol com um ponto na bagagem. Apesar da importância desses jogadores para segurar o resultado, a atuação geral da equipe deixou a desejar, levantando dúvidas sobre a capacidade de competir em alto nível contra adversários diretos na reta final do campeonato.
A Ameaça à Vaga na Libertadores e a Necessidade de Mudanças
O empate sem gols em Mirassol acende um sinal vermelho para o Botafogo na disputa por uma vaga na Copa Libertadores. A equipe, que antes via a classificação como uma meta a ser cumprida com certa tranquilidade, agora vê essa possibilidade cada vez mais ameaçada. Com 47 pontos, o Glorioso corre o risco de ser ultrapassado pelo Vasco na próxima rodada, dependendo do resultado de seu rival. A situação se torna ainda mais preocupante quando se considera que a vaga direta na Libertadores pode ser influenciada pela final entre dois clubes brasileiros no torneio continental, o que aumenta a importância de posições mais altas na tabela.
É inegável o mérito dos adversários na disputa, mas a responsabilidade maior recai sobre o próprio Botafogo. A falta de criatividade e a irregularidade apresentada em sequência são sintomas de um problema mais profundo, que envolve desde a leitura de jogo até a execução tática em campo. A atuação apática contra o Mirassol é um reflexo direto dessas questões. Para reverter esse quadro e garantir a tão desejada vaga na Libertadores, o Botafogo precisa urgentemente reencontrar o caminho da vitória, apresentar um futebol mais envolvente e, principalmente, demonstrar a coragem e a ambição que faltaram em Mirassol.

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