A menos de duas semanas da Conferência das Partes (COP30), evento de proporções globais focado nas mudanças climáticas e que ocorrerá em Belém, no Brasil, o cenário para a participação do esporte na discussão ambiental se mostra incerto. Apesar de ser amplamente reconhecido por governos e pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma poderosa ferramenta de engajamento social na luta contra a crise climática, a presença e o protagonismo do setor esportivo na COP30 enfrentam obstáculos significativos. A falta de definição sobre a inclusão do esporte na Zona Azul do evento, onde as decisões oficiais são tomadas, e a ausência de um painel dedicado na programação oficial do governo federal, levantam preocupações sobre o aproveitamento do potencial unificador e mobilizador do esporte em um fórum tão crucial para o futuro do planeta.
O Esporte como Plataforma de Engajamento Climático
A COP30, carinhosamente apelidada de “Copa do Mundo sobre as Mudanças Climáticas”, tem o potencial de reunir representantes de mais de 130 nações em Belém, no Pará, para debater e traçar estratégias concretas no combate ao aquecimento global. O Brasil, reconhecido por sua liderança e compromisso com as pautas ambientais, carrega consigo uma expectativa elevada para este evento. Paralelamente, o país se destaca internacionalmente no cenário esportivo, com o futebol ocupando um lugar de destaque no coração de seus cidadãos. A combinação dessas duas forças – esporte e clima – deveria, em tese, gerar uma sinergia poderosa para a causa ambiental. No entanto, a realidade tem se mostrado desafiadora, marcada por cortes orçamentários, dificuldades na logística de acomodação para delegações e uma aparente escassez de atletas de renome atuando como embaixadores da causa climática no contexto da COP30.
Desafios na Inclusão do Esporte nas Negociações Oficiais
Um dos pontos de maior tensão na organização da COP30 reside na luta pela inclusão efetiva do esporte na chamada Zona Azul. Este espaço é o epicentro das negociações oficiais, o local onde as decisões mais importantes são tomadas, abrigando a Cúpula dos Líderes e os pavilhões nacionais. Até o momento da apuração desta matéria, a garantia da presença do esporte neste ambiente privilegiado não estava confirmada. Ademais, o esporte não possui um painel específico dentro da extensa programação do governo federal nos Pavilhões Brasil. Com mais de 280 eventos previstos para abordar mudanças climáticas e políticas ambientais, o tema esportivo corre o risco de ser relegado a discussões dentro de dias temáticos mais amplos, como os focados em cultura, agendados para os dias 12 e 13 de novembro. Essa marginalização pode significar a perda de uma oportunidade ímpar de capitalizar sobre a paixão e o alcance global do esporte para impulsionar a agenda climática.
Vozes do Esporte e a Ação Climática Global
A importância do esporte como agente de união e pertencimento na busca por soluções climáticas foi ressaltada por Lindita Xhaferi-Salihu, oficial do Quadro de Esporte pela Ação Climática da ONU. Em declarações recentes, ela enfatizou a necessidade de chegar à COP30 com uma mensagem de unidade, destacando que “o esporte é afetado pelas mudanças do clima, e a única maneira de ele prosperar no futuro é garantirmos um ambiente seguro. Por isso precisamos ter essa voz presente. O aspecto de aproximação que o esporte proporciona é algo de que o mundo precisa”. Apesar dessa visão clara sobre o papel do esporte, a participação de grandes organizações esportivas globais na COP30 parece comprometida. O Comitê Olímpico Internacional (COI), signatário do quadro Esportes para Ação Climática da ONU, confirmou que não estará presente fisicamente em Belém, optando por um engajamento remoto e colaborativo, embora reforce seu compromisso com a redução de suas emissões de gases de efeito estufa. A Federação Internacional de Futebol (Fifa), por sua vez, que tradicionalmente comparecia às COPs, ainda não se posicionou sobre sua presença no evento no Pará, mesmo com metas ambiciosas de redução de emissões.
Participação Institucional e Desafios Logísticos
A expectativa de ver clubes de futebol de projeção internacional participando ativamente da conferência também não se concretizou até o momento, com nenhuma confirmação oficial. No cenário nacional, o Ministro do Esporte, André Fufuca, confirmou presença na abertura da COP30, com o objetivo de apresentar políticas públicas e demonstrar como o esporte transforma vidas no Brasil. O Ministério do Esporte indicou que se fará presente através de parcerias com ONGs e empresas privadas, que se beneficiam de verbas via Lei de Incentivo ao Esporte. Contudo, detalhes sobre quais entidades específicas estarão envolvidas não foram divulgados. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) também anunciou que não estará presente, citando o alto custo da hospedagem em Belém como um fator impeditivo. Em contrapartida, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assegurou que realizará um painel no evento no dia 13 de novembro, onde apresentará seu novo plano de sustentabilidade, demonstrando um esforço isolado de uma das principais entidades do futebol nacional em dar visibilidade à pauta ambiental dentro do contexto da COP30.

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