Um novo capítulo se desenha no complexo cenário de investigações sobre corrupção no futebol mundial, com a Justiça do Paraguai movendo um processo penal contra nove indivíduos supostamente envolvidos em desvios financeiros na Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A ação judicial recai sobre pessoas ligadas à administração do paraguaio Nicolás Leoz, que presidiu a entidade máxima do futebol sul-americano entre os anos de 1986 e 2013. Leoz, figura central nas acusações, faleceu em 2019, mas seu legado financeiro e as investigações que o cercam continuam a ecoar, impactando figuras próximas e instituições financeiras.
Entre os denunciados, destacam-se nomes familiares para quem acompanha as ramificações do escândalo. A viúva de Nicolás Leoz, María Clemencia Pérez, e suas duas filhas, Nora e María Celeste, figuram na lista do Ministério Público paraguaio. Além delas, a investigação aponta para a participação de indivíduos com conexões diretas com o Banco Atlas, instituição financeira que teria sido instrumentalizada para a realização do esquema de desvio de verbas. A extensão das acusações sugere um padrão de conduta que ultrapassa a esfera pessoal, alcançando a estrutura de poder e os mecanismos financeiros utilizados durante a gestão de Leoz na Conmebol.
As Raízes de um Escândalo de Proporções Globais
Este processo no Paraguai não surge isoladamente, mas como um desdobramento direto do que ficou conhecido mundialmente como “Fifagate”. O escândalo veio à tona de forma impactante em 2015, impulsionado por investigações conduzidas pelo FBI, a agência federal de investigação dos Estados Unidos. A operação expôs uma rede de corrupção que se estendia por diversas confederações e federações nacionais, alcançando figuras proeminentes no cenário futebolístico. No Brasil, o Fifagate teve ramificações significativas, com ex-presidentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) como Ricardo Teixeira, Marco Polo del Nero e José Marin Marin sendo diretamente implicados. Marin, inclusive, chegou a ser preso e condenado nos Estados Unidos, tendo retornado ao Brasil pouco antes de seu falecimento em julho. A reverberação dessas investigações demonstra a magnitude do problema, que abalou os alicerces da governança no esporte mais popular do planeta.
A Recuperação de Fundos e o Papel da Auditoria
A busca por transparência e a recuperação de ativos desviados têm sido uma constante desde que o Fifagate eclodiu. Em 2017, um marco importante nesse sentido foi a entrega de uma auditoria interna realizada pela própria Conmebol às autoridades paraguaias. Esse relatório meticuloso, elaborado para trazer à luz as irregularidades financeiras, serviu como um pilar para as investigações em curso. A entidade, após esse processo, afirma ter conseguido reaver uma quantia expressiva de fundos, estimada em mais de US$ 130 milhões, o que equivale a aproximadamente R$ 700 milhões. Essa recuperação de verbas, embora significativa, apenas arranha a superfície do volume financeiro que teria sido desviado ao longo dos anos, ressaltando a gravidade das perdas para o desenvolvimento do futebol.
Medidas Cautelares e Audiências Pendentes
Diante das evidências apresentadas pelo Ministério Público paraguaio, foram solicitadas medidas cautelares contra os nove denunciados. O objetivo principal dessas medidas é garantir que os acusados cumpram suas obrigações legais durante o andamento do processo penal. Entre as exigências estão a apresentação regular em juízo e a prestação de depósitos cauções, que funcionam como garantias financeiras para assegurar a comparecência dos réus e a eventual reparação de danos. A Justiça do Paraguai está ciente da complexidade do caso e aguarda o momento oportuno para deliberar sobre esses pedidos. Audiências cruciais estão agendadas para os dias 20 e 21 de novembro, datas em que se espera uma decisão sobre a imposição das cautelares e os próximos passos do processo.
O Legado de Nicolás Leoz e a Persistência da Justiça
Nicolás Leoz, figura central e antiga autoridade máxima do futebol sul-americano, já havia sido alvo de acusações de corrupção pela Justiça dos Estados Unidos. Houve, à época, tentativas de extradição para que ele respondesse às acusações em solo americano. No entanto, por meio de recursos legais e manobras jurídicas, Leoz conseguiu permanecer no Paraguai, seu país de origem. Nos seus últimos anos de vida, cumpriu prisão domiciliar em sua residência, um indicativo das severas restrições que já pesavam sobre ele. A atual ação penal no Paraguai demonstra que, mesmo após sua morte, a busca pela verdade e pela justiça em relação às finanças da Conmebol sob sua gestão não cessou, prometendo trazer à tona mais detalhes sobre um dos maiores escândalos que já assolaram o mundo do futebol.

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