A política de Nova York ganhou um novo e inesperado protagonista. Zohran Mamdani, um democrata de 34 anos, com raízes em Uganda, alcançou a prefeitura da cidade em uma trajetória surpreendente, saindo de uma projeção de apenas 1% das intenções de voto para se tornar o primeiro imigrante, muçulmano e socialista a assumir o comando da “Big Apple”. Sua ascensão não é apenas um marco na história política americana, mas também revela um lado de sua personalidade que ressoa profundamente com a paixão global pelo esporte mais popular do planeta: o futebol.
Durante sua campanha eleitoral, Mamdani não escondeu sua admiração pelo esporte, utilizando-o como metáfora para ilustrar sua jornada improvável. Após a vitória, ele se autodeclarou o “Leicester” das eleições nova-iorquinas, uma comparação direta com o icônico clube inglês que, contra todas as expectativas, conquistou a Premier League na temporada 2015/16, destronando os gigantes tradicionais do futebol inglês. Essa analogia não foi apenas um artifício retórico; ela sinalizou uma conexão genuína com os valores de superação e luta que o futebol frequentemente inspira.
Do Campo à Política: Uma Paixão que Move Montanhas
A relação de Zohran Mamdani com o futebol transcende a mera admiração por um time ou a utilização de metáforas em discursos políticos. Para o novo prefeito de Nova York, o esporte representa uma força capaz de unir pessoas e gerar momentos de alegria, algo que ele considera fundamental para a identidade da cidade. Sua torcida declarada pelo Arsenal, um dos clubes mais tradicionais da Inglaterra, é apenas a ponta do iceberg de seu envolvimento com o universo da bola.
Às vésperas da Copa do Mundo de 2026, que terá os Estados Unidos como um dos países anfitriões, Mamdani já demonstra que sua influência como prefeito se estenderá à esfera esportiva. Um dos seus focos mais prementes é a política de preços de ingressos estabelecida pela FIFA para o torneio. Ele considera os valores atuais exorbitantes, especialmente para aqueles que ele chama de “verdadeiros torcedores”, aqueles que vivenciam o futebol com a mesma intensidade que ele.
A iniciativa “Game Over Greed” (O Jogo Acima da Ganância), lançada por Mamdani em setembro, antes mesmo de sua eleição, é um reflexo direto dessa preocupação. A petição online visa pressionar a FIFA a repensar seu modelo de precificação, que se alinha à lógica de mercado, elevando os preços conforme a demanda aumenta. A proposta do prefeito eleito inclui a destinação de uma cota de 15% dos ingressos a preços acessíveis para os residentes locais, buscando democratizar o acesso a um evento de magnitude mundial.
A Luta Contra a Ganância no Futebol: Mamdani Contra a FIFA
Os preços dos ingressos para a Copa do Mundo de 2026 já foram divulgados, e os valores variam de US$ 60 (aproximadamente R$ 320) para jogos da fase de grupos até US$ 6.730 (cerca de R$ 35,9 mil) para a grande final, que acontecerá no icônico MetLife Stadium, em Nova York – o palco que agora estará sob a administração de Mamdani. Essa proximidade geográfica torna a questão ainda mais pessoal e urgente para o prefeito.
A FIFA, por sua vez, já havia alertado sobre a possibilidade de flutuações nos preços com base na demanda, um modelo de precificação que, segundo a entidade, reflete as práticas comuns no mercado americano para grandes eventos. No entanto, Mamdani não se intimida com a posição da entidade máxima do futebol.
“Eu cresci tendo memórias das Copas do Mundo que eu vi na TV, e fui à Copa de 2010 na África do Sul. Eu sei o que esse torneio representa”, declarou Mamdani em entrevista ao “The Athletic”. “Esse tipo de política da FIFA é uma ameaça de afastar justamente as pessoas que fazem esse jogo ser tão especial. Na nossa luta para tornar a cidade mais cara dos Estados Unidos mais acessível, não estamos limitados à habitação, saúde ou transportes públicos. Também se estende a esses momentos que trazem tanta alegria à Nova York, como será a Copa do Mundo do ano que vem.”
Apesar de ainda não haver uma comunicação oficial da FIFA sobre o assunto, Mamdani relata que a entidade já deu sinais de que poderá atender, ao menos parcialmente, suas reivindicações, especialmente no que diz respeito à criação de um lote de ingressos com preços fixos e imunes à variação. “Esta é só uma parte do que estamos pedindo, que é o fim da variação de preços na Copa do Mundo. Mas isso já mostra que eles estão prestando atenção, e também que ainda há muito a ser feito”, completou Mamdani, demonstrando sua determinação.
As Raízes de um Torcedor: Arsenal e o Sonho de um Jovem Africano
A paixão de Zohran Mamdani pelo futebol tem origens profundas e está intrinsecamente ligada à sua identidade. Nascido em Kampala, capital de Uganda, em 1991, ele se mudou para os Estados Unidos aos sete anos, mas trouxe consigo o amor incondicional pelo esporte. A influência de um tio e o talento de ídolos como Thierry Henry, Patrick Vieira e Dennis Bergkamp foram cruciais para que ele se tornasse um torcedor fervoroso do Arsenal.
Na infância, Zohranzinho pôde vibrar com uma era de ouro para os Gunners, celebrando títulos importantes como quatro Copas da Inglaterra (1997/98, 2001/02, 2002/03 e 2004/05) e três troféus da Premier League (1997/98, 2001/02 e, de forma especial, a conquista invicta da temporada 2003/04). Essa fase de glórias consolidou seu amor pelo clube londrino.
Para além dos craques europeus, Mamdani também se identificou com a política de contratações do Arsenal no início dos anos 2000, que frequentemente incluía jogadores africanos de destaque. Nomes como o camaronês Lauren, os marfinenses Kolo Touré e Emmanuel Eboué, o nigeriano Nwankwo Kanu e o togolês Emmanuel Adebayor foram referências importantes, reforçando o vínculo do jovem Zohran com o clube que abraçava talentos de diversas partes do continente africano.
Além do Arsenal: Um Coração Aberto pelo Oviedo
A dedicação de Mamdani ao futebol não se limita a torcer por seu time de coração. Sua paixão se manifesta de maneiras mais concretas e altruístas. Em 2012, quando o modesto clube espanhol Real Oviedo enfrentava uma grave crise financeira e corria o risco de falência, Mamdani, então com 21 anos e sem qualquer ligação prévia com o futebol espanhol, decidiu agir.
O clube abriu seu capital para arrecadar fundos, e Zohran, um jovem ainda desconhecido morador do Maine, foi um dos muitos idealistas que compraram ações, não por interesse financeiro, mas unicamente para ajudar a salvar a paixão de outros torcedores. Essa iniciativa, amplamente divulgada pelo jornalista inglês Sid Lowe, demonstrou o alcance e a profundidade do amor de Mamdani pelo esporte, que o levou a estender a mão a um clube distante, impulsionado pela empatia e pelo desejo de preservar a magia do futebol.
Um Novo Líder em Tempos de Polarização: Mamdani e a Visão de uma Cidade Acolhedora
A ascensão meteórica de Zohran Mamdani à prefeitura de Nova York o catapultou para os holofotes, transformando-o em uma figura proeminente no Partido Democrata e, consequentemente, em um alvo para o ex-presidente Donald Trump. A visão de Mamdani sobre imigração e diversidade contrasta fortemente com a retórica de Trump, tornando o novo prefeito um adversário ferrenho de suas políticas.
Durante a campanha, Mamdani enfrentou ameaças presidenciais de cortes em subsídios federais à cidade caso ele fosse eleito. Agora, como prefeito, ele se vê diante de um novo desafio: gerenciar a cidade durante a Copa do Mundo de 2026, um evento que, por sua natureza, atrai um grande número de turistas estrangeiros.
“Este é um momento em que nós estaremos recebendo o mundo. E muitas pessoas já me perguntaram se haverá agentes do controle de imigração (ICE, na sigla em inglês) fora dos estádios ou se as pessoas terão de carregar seus documentos para todo lugar”, comentou Mamdani, referindo-se às condições que, segundo ele, o governo Trump tem criado nos Estados Unidos. Sua gestão promete ser um farol de acolhimento e inclusão, em um momento crucial para Nova York.

Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores







