A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi um dos momentos mais sombrios do século 20, marcado pelo combate à ascensão do nazismo e do fascismo. Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas morreram no período. No Brasil, o regime ditatorial do Estado Novo, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, aderiu à Carta do Atlântico, que previa o apoio a qualquer nação da América que fosse atacada. Essa adesão gerou uma represália: submarinos alemães e italianos afundaram embarcações brasileiras no Oceano Atlântico, gerando enorme pressão popular para que o Brasil aderisse à guerra.
O Brasil se prepara para a guerra
No entanto, o país não tinha infraestrutura industrial, financeira ou médica para intervir num conflito de grande porte. A solução encontrada pelo Governo foi lançar a “Campanha Nacional de Aviação”, que tinha o objetivo de angariar doações e materiais que servissem para a compra ou construção de aviões, ampliação de hangares e campos de pouso de aeroclubes. Essa campanha foi fundamental para o envolvimento do Brasil na guerra.
O Fluminense se junta à luta
O presidente do Fluminense na época, Marcos Carneiro de Mendonça, também era historiador, o que o fez acompanhar de perto o conflito. Ao saber da iniciativa do Governo, enviou uma carta para que os sócios do Fluminense arrecadassem fundos para a compra de um monomotor modelo Fairchild PT-19, que seria doado para a Força Expedicionária Brasileira. Há relatos de que o dinheiro das próprias finanças do Fluminense foi utilizado para aumentar o montante e chegar ao valor necessário.
Além das doações para a compra do avião, o Fluminense organizou eventos esportivos de diversas modalidades para a arrecadação de fundos, como competições hípicas, torneios universitários e até competições consideradas “fora do normal” para os jornais da época.
A entrega do avião e o apoio às tropas brasileiras
A entrega da aeronave, batizada de Coelho Netto, em homenagem póstuma ao escritor, patrono e sócio do clube, foi feita nas Laranjeiras, em uma cerimônia realizada no dia 11 de outubro, antes de um clássico entre Fluminense e Flamengo, pelo Campeonato Carioca daquele ano. O jogo terminou empatado por 1 a 1.
Além da doação do avião, o Fluminense disponibilizou — e sediou — cursos de enfermagem nas instalações das Laranjeiras para capacitar profissionais que lutariam na Itália. Mais de 100 profissionais capacitados saíram de lá para auxiliar as tropas brasileiras na Itália. O estande de tiro também foi utilizado para treinamentos dos militares que viajaram para o combate.
O legado do Fluminense na guerra
O Fluminense cedeu Laranjeiras para eventos de “esforço de guerra” e ampliou a sua Escola de Instrução Militar. De 1937 a 1945, foram 813 reservistas cedidos ao Exército Brasileiro. Durante a guerra, o clube estabeleceu a obrigatoriedade da leitura de um “Prefixo de Guerra” em todos os eventos esportivos por ele organizados.
Em 2015, a Comunidade Judaica prestou uma homenagem ao Fluminense. O clube recebeu uma placa de reconhecimento pelo combate ao nazismo na Segunda Guerra Mundial. Um chanukiá, candelabro de nove braços, ficou exposto na sede por duas semanas.
Em 2022, o Tricolor entrou em campo com a Estrela de Davi no uniforme, em jogo contra o Goiás que ocorreu na mesma data da “Noite dos Cristais” (ou “Kristallnacht”), que em 1938 marcou uma ocasião de extrema violência contra judeus na Europa.
Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores