O futebol brasileiro está em ebulição com as propostas apresentadas pelo Clube de Regatas do Flamengo para um novo modelo de gestão e sustentabilidade. Em um documento extenso e detalhado, divulgado recentemente, o clube rubro-negro não apenas sugere mecanismos de “Fair Play Financeiro” adaptados à realidade nacional, mas também levanta bandeiras importantes como a proibição de gramados sintéticos e a necessidade de um tratamento mais rigoroso para clubes em recuperação judicial. As ideias, que foram formalmente apresentadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) durante uma reunião realizada nesta segunda-feira, buscam equilibrar a competição, promover a transparência e garantir a saúde financeira e física dos atletas.
Fair Play Financeiro: Uma Nova Abordagem para o Futebol Brasileiro
O Flamengo, ciente dos desafios que permeiam o cenário financeiro do futebol no Brasil, propôs um sistema de “Fair Play Financeiro” com pilares robustos e inovadores. A ideia central é criar um ambiente mais justo e equitativo para todos os clubes, impedindo que vantagens indevidas distorçam a competitividade. Uma das propostas mais significativas diz respeito ao tratamento de clubes que se encontram em processo de Recuperação Judicial ou Extrajudicial (RJ/REJ). O clube sugere que o período entre a decretação da RJ/REJ e a homologação do acordo não seja utilizado como uma brecha para ganhar vantagem, propondo o bloqueio do registro de novos atletas e até mesmo a perda de pontos para as equipes que tentarem burlar as regras. Essa medida visa evitar que a fragilidade financeira se transforme em um trampolim para obter benefícios em campo.
Outro ponto crucial abordado pelo Flamengo é a necessidade de uma definição mais ampla e criteriosa dos custos. A proposta vai além da simples folha salarial (CLT), englobando todo o custo envolvido na manutenção do elenco. Isso inclui direitos de imagem, luvas, bônus, comissões de agentes e todos os impostos incidentes. A intenção é ter uma visão completa e realista dos gastos de cada clube, evitando “maquiagens” contábeis que possam distorcer a realidade financeira. O clube também ressalta a importância de impedir que custos relacionados ao futebol profissional masculino sejam disfarçados como investimentos em categorias de base ou futebol feminino, por meio de rateios fictícios, garantindo que os recursos sejam devidamente alocados e contabilizados.
O Impacto dos Gramados Sintéticos e a Busca por Equilíbrio
A discussão sobre os gramados sintéticos ganhou um espaço de destaque nas propostas do Flamengo. O clube defende veementemente a eliminação imediata desses gramados em todos os torneios nacionais profissionais. A justificativa é clara e baseada em dois pilares fundamentais: o desequilíbrio financeiro e a saúde dos atletas. A manutenção de gramados sintéticos, segundo o Flamengo, gera custos significativamente diferentes daqueles de gramados naturais, criando uma disparidade financeira entre os clubes. Além disso, há um argumento forte sobre os riscos à saúde física dos jogadores e atletas, que podem sofrer mais lesões e desgastes em superfícies artificiais. A eliminação desses campos seria um passo importante para nivelar as condições de jogo e proteger o bem-estar dos profissionais.
A proposta de criar um controle de caixa mínimo, com a implementação de indicadores antecedentes como a necessidade de capital de giro saudável, é outra medida que visa a prevenção de crises de liquidez. Essa abordagem proativa é essencial para garantir a sustentabilidade a longo prazo dos clubes. Ademais, o Flamengo sugere que transações entre partes relacionadas, como clubes e empresas do mesmo proprietário, sejam desconsideradas ou limitadas. O objetivo é coibir práticas que possam inflar artificialmente receitas ou ocultar custos, como a contabilização de aportes de capital como receita recorrente. Essas medidas visam trazer mais transparência e ética às operações financeiras do futebol.
Incentivo à Boa Governança e Sanções Eficazes
O Flamengo também visualiza um sistema de classificação para os clubes, semelhante ao utilizado por consultorias especializadas, que utilizaria “ratings” para avaliar a gestão. Clubes com melhor desempenho na gestão financeira e administrativa teriam mais margens de manobra, criando um forte incentivo para a adoção de boas práticas de governança. Essa medida visa recompensar a organização e a responsabilidade, transformando a boa gestão em uma vantagem competitiva legítima. Para garantir o cumprimento das regras, o clube propõe sanções eficazes, com foco na restrição de janelas de transferência. A ideia é que essas punições sejam cumpridas integralmente, mesmo que a causa da sanção seja posteriormente resolvida, desestimulando a procrastinação e a busca por brechas.
A implementação do “Teste de Proprietários e Dirigentes” é outra proposta que demonstra a preocupação do Flamengo com a integridade do esporte. A criação de um processo de avaliação rigoroso para determinar a aptidão de novos proprietários e dirigentes visa proteger a imagem e a credibilidade das competições e dos clubes. O objetivo é assegurar que os indivíduos que gerenciam ou adquirem clubes sejam confiáveis e possuam capacidade financeira comprovada, evitando a entrada de pessoas mal-intencionadas ou despreparadas que possam prejudicar o ecossistema do futebol. A exigência de exequibilidade efetiva do sistema, com uma governança preparada para executar punições automáticas com base em dados factuais e financeiros, completa o pacote de propostas, demonstrando um compromisso profundo com a construção de um futebol mais sustentável e justo no Brasil.

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