O Allianz Parque foi palco de uma noite memorável na última quinta-feira, onde o Palmeiras garantiu sua vaga na final da Conmebol Libertadores. Em uma partida de volta repleta de tensão contra a LDU, a classificação alviverde foi selada não apenas pela força coletiva, mas também por uma atuação individual que se destacou de forma espetacular. Um jovem talento da base, que até pouco tempo atrás não era o nome mais comentado, emergiu como peça fundamental, orquestrando lances cruciais e conquistando o aval do treinador.
O Herói Inesperado que Desequilibrou
A escalação de Abel Ferreira para o confronto decisivo trazia consigo algumas surpresas, mas uma delas, em particular, provou ser um divisor de águas. Trata-se de Allan, um produto da “Cria da Academia” que, com discrição, ascendeu ao profissional. Sua atuação contra a LDU foi marcada por uma ousadia impressionante, velocidade e uma capacidade ímpar de romper defesas. Jogando pela ponta direita, ele injetou um ritmo frenético no ataque palmeirense, utilizando dribles secos e uma confiança que desestabilizaram completamente a marcação equatoriana. Longe de se intimidar com a magnitude do jogo, Allan demonstrou a maturidade de um veterano, mostrando que a base do Palmeiras, mesmo com suas joias menos badaladas, possui um poder de impacto inegável.
O Lance Mágico e a Conquista da Vaga
O impacto de Allan não tardou a se manifestar. Aos 19 minutos de partida, ele orquestrou uma jogada magistral, encontrando um cruzamento preciso que chegou à cabeça de Ramón Sosa. Um leve desvio do atacante foi o suficiente para abrir o placar, incendiando o já vibrante Allianz Parque e dando o tom do que seria a classificação. A partir dali, Allan sentiu a confiança crescer, desfilando habilidade e mostrando um repertório de dribles que deixavam os defensores da LDU em desvantagem posicional constante. A pressão palmeirense aumentava, e os espaços começavam a se abrir. O ápice de sua performance, porém, viria aos 32 minutos da etapa final. Em uma demonstração de puro talento e coragem, Allan enfileirou adversários, invadiu a área em direção à linha de fundo e sofreu a falta que resultou no pênalti. Raphael Veiga, com a frieza habitual, converteu a cobrança, sacramentando a tão sonhada vaga na final da Libertadores.
O Reconhecimento de Abel e o Futuro Promissor
O desempenho de Allan não passou despercebido. Em entrevista coletiva pós-jogo, o técnico Abel Ferreira fez questão de exaltar a atuação do jovem atleta e revelar que já havia conversado com o diretor de futebol, Anderson Barros, sobre a necessidade de valorização do jogador. “Fico feliz porque Allan praticamente não jogava no sub-20. E eu falei pro Barros: ‘ele não pode sair do Palmeiras'”, declarou Abel, enaltecendo o caráter, o perfil, o desequilíbrio e a verticalidade absurda do meia-atacante. Abel demonstrou otimismo com a possibilidade de não precisar vender mais jogadores, enfatizando que Allan será reconhecido pelo que fez em campo. Ele revelou que sequer sabia o salário do atleta e se comprometeu em buscar um reajuste salarial justo, ressaltando que o jogador merece ser valorizado tanto por suas qualidades técnicas quanto por sua índole.
A Trajetória de Superação e a Força Familiar
A história de Allan Elias é uma narrativa de superação e resiliência. Incorporado ao elenco profissional no início deste ano, ele nem sequer figurava na lista inicial de Abel para treinar com a equipe principal, com outros jovens como Luighi e Thalys sendo apontados como as próximas grandes promessas. Contudo, Allan desafiou as previsões, assim como fez ao longo de sua vida. Nascido em Florianópolis, iniciou no futsal aos sete anos, demonstrando talento precoce. A família, que enfrentou um incêndio em sua residência, sempre foi seu porto seguro. Aos 14 anos, ingressou nas categorias de base do Figueirense, ganhando destaque e sendo convocado para a Seleção Sub-15. Foi durante uma competição em Minas Gerais que chamou a atenção do Palmeiras, transferindo-se em 2019. A jornada para São Paulo foi acompanhada de perto por seus pais, Débora e Fabrício, que se mudaram com ele e ofereceram o suporte inabalável necessário para que Allan perseguisse seu sonho. A memória de amigos perdidos em tragédias, como o incêndio no alojamento do Flamengo, serve como um lembrete constante da fragilidade da vida e da importância de valorizar cada conquista.
A Virada de Chave e a Consolidação
Após um período de adaptação e ajustes, 2024 marcou a virada de chave para Allan. Vestindo a camisa 10 no sub-20, ele mostrou sua evolução e ganhou a confiança para integrar o time principal em 2025, onde sua participação decisiva na classificação para as quartas de final do Estadual já havia gerado elogios de Abel Ferreira. Mesmo após um período de sete jogos no banco de reservas, Allan soube aproveitar suas oportunidades. Seu retorno à Libertadores, contra o Cerro Porteño, foi o prenúncio de seu bom momento, colecionando uma assistência contra o Sporting Cristal e um gol sobre o Cruzeiro. O reconhecimento de seu potencial se concretizou em junho, com a renovação de seu contrato por mais quatro anos, estendendo seu vínculo com o clube até 2029. A atuação contra a LDU, coroada com a conquista da vaga na final da Libertadores, solidificou seu status como um jogador de confiança e um talento a ser observado no futebol brasileiro.

Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores







