Em um evento realizado no auditório do Museu do Futebol, um grupo de torcedores e idealizadores apresentou formalmente a proposta para a criação da “SAFiel”, um plano ambicioso para transformar o Sport Club Corinthians Paulista em uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), com participação ativa dos milhões de torcedores corintianos como acionistas. A iniciativa busca reestruturar financeiramente o clube e modernizar sua gestão, separando o departamento de futebol das atividades sociais. No entanto, os responsáveis pelo projeto já admitem os desafios e as dificuldades em obter o apoio necessário dos conselheiros e dirigentes para a sua implementação, especialmente diante da reforma estatutária em curso no Conselho Deliberativo, que, segundo eles, pode inviabilizar a concretização da SAFiel como idealizada.
O Projeto SAFiel: Uma Nova Era para o Corinthians?
A proposta “SAFiel” visa criar uma nova estrutura para o futebol do Corinthians, com o objetivo de atrair investimentos significativos e profissionalizar a gestão. A ideia central é que uma nova empresa, denominada “Invasão Fiel S/A”, passe a deter todos os ativos relacionados ao futebol, abrangendo as equipes masculina, feminina e as categorias de base. Esta nova entidade seria estruturada como uma holding com ações disponíveis para negociação no mercado. A principal inovação reside na democratização do acesso ao investimento, com a criação de duas classes de ações. Uma seria destinada prioritariamente aos torcedores, desde que associados ou membros do programa Fiel Torcedor, garantindo a eles direito a voto na administração da SAF. A outra classe seria voltada para investidores institucionais, que não teriam direito a voto, assegurando que o controle e a gestão permaneçam sob a influência da massa corintiana. Essa distinção é vista como fundamental para manter a identidade popular do clube, mesmo sob uma nova estrutura empresarial.
Desafios no Caminho: Reforma Estatutária e o Controle da SAF
Um dos principais obstáculos para a concretização da SAFiel é a reforma do estatuto que está sendo discutida pelo Conselho Deliberativo do Corinthians. Embora a reforma abra caminho para a criação de uma SAF, ela estabelece uma restrição crucial: a vedação expressa à aquisição do controle majoritário da SAF por investidores externos. O objetivo declarado é assegurar que a gestão e o controle institucional permaneçam sob a responsabilidade dos associados. Os idealizadores da SAFiel, contudo, argumentam que essa cláusula inviabiliza o projeto. Segundo Carlos Teixeira, um dos idealizadores, a exigência de que o clube associativo detenha a maioria das ações envia uma mensagem ao mercado de que o clube deseja manter o controle tradicional, o que, na visão dele, dificulta a entrada de capital mais sério e institucional. Ele ressalta que investidores de grande porte buscam segurança e uma mudança efetiva no eixo de controle da gestão, algo que, na sua perspectiva, o estatuto em discussão não oferece, e aponta a gestão associativa como um dos fatores que contribuíram para a situação atual do clube.
A Visão dos Idealizadores e a Estrutura Proposta
Apesar dos desafios, os idealizadores da SAFiel demonstram otimismo quanto à possibilidade de ajustes. Eduardo Salusse, outro membro do grupo, acredita que com vontade política e apoio interno, é possível modificar o estatuto existente ou o novo texto para permitir a adoção de um modelo de SAF. A visão por trás da SAFiel é clara: implementar uma cultura empresarial e uma gestão profissionalizada no futebol, dissociando-o completamente do clube social. A estrutura proposta para a Invasão Fiel S/A é robusta, prevendo a captação de recursos na ordem de R$ 1,6 bilhão a R$ 2,5 bilhões. Estes fundos seriam aplicados em diversas frentes, como a reestruturação das dívidas, que atualmente beiram os R$ 2,7 bilhões, a modernização do Centro de Treinamento (CT) Joaquim Grava, a construção de um CT específico para as categorias de base, o investimento no elenco e a melhoria geral da infraestrutura, sistemas, processos, compliance e governança. Com a separação, o clube associativo se livraria das dívidas e receberia royalties mensais da SAF, permitindo que se dedique exclusivamente às suas atividades sociais e esportivas, sem o peso financeiro do futebol profissional.
Governança e Participação: Um Modelo Inclusivo
Um dos pilares da SAFiel é a sua estrutura de governança, pensada para ser inclusiva e transparente. O modelo prevê a criação de um Comitê de Governança, além de conselhos administrativo, fiscal e cultural. Esses órgãos seriam compostos por gestores independentes, indicados por torcedores com direito a voto, representantes das torcidas organizadas e membros do próprio Parque São Jorge. A administração do dia a dia ficaria a cargo de executivos profissionais, cujas contratações e demissões seriam baseadas estritamente em capacidade técnica e no cumprimento de metas estabelecidas. Essa abordagem visa garantir uma gestão eficiente e focada em resultados. Carlos Teixeira enfatizou que a SAFiel é um projeto colaborativo, concebido com o propósito de ajudar o Corinthians a reencontrar seu caminho sem perder sua “alma popular”. Ele reiterou que os idealizadores não possuem interesses econômicos, políticos ou de cargos na futura SAF, agindo unicamente por amor ao clube e com o objetivo de contribuir para o seu futuro.
A Necessidade de Diálogo e Adaptação
A apresentação da SAFiel marca um momento de reflexão profunda para o Corinthians. A necessidade de modernização e de novas fontes de receita é inegável, especialmente diante do cenário financeiro atual. O modelo de SAF surge como uma alternativa viável para muitos clubes brasileiros, e a proposta da SAFiel busca adaptar esse modelo à realidade e à paixão da torcida corintiana. No entanto, o sucesso da iniciativa dependerá crucialmente da capacidade de diálogo entre os idealizadores, os conselheiros e a atual diretoria. A reforma estatutária em discussão no Conselho Deliberativo é o ponto nevrálgico que precisa ser abordado. Encontrar um meio-termo que permita a entrada de capital e a profissionalização da gestão, ao mesmo tempo em que se preserva a identidade e o controle popular do clube, será o grande desafio. A participação simbólica da proposta aos conselheiros e associados nesta terça-feira representa o primeiro passo em uma jornada que promete ser árdua, mas que carrega consigo a esperança de um futuro mais promissor para o Sport Club Corinthians Paulista.

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