O clima nos bastidores do Real Madrid parece mais tranquilo do que o burburinho externo sugere após o recente clássico contra o Barcelona. A polêmica envolvendo Vinícius Júnior e o técnico Xabi Alonso, desencadeada após a substituição do atacante na vitória merengue, não resultará em nenhuma sanção formal ao jogador. O clube optou por uma abordagem conciliatória, tratando o assunto com discrição até a reapresentação do elenco na próxima quarta-feira. Internamente, embora se reconheça que a manifestação de Vini Jr. possa ter sido ostensiva, a surpresa com o desabafo é limitada, considerando o desgaste acumulado na relação entre jogador e treinador ao longo da temporada.
O Limite de Vini Jr. e as Frequentes Substituições
A percepção nos corredores do Real Madrid já indicava que Vinícius Júnior estava atingindo um ponto de saturação em relação às recorrentes substituições promovidas por Xabi Alonso. Em um total de 13 partidas disputadas até o momento, o atacante brasileiro iniciou como titular em dez oportunidades, mas permaneceu em campo durante os noventa minutos em apenas três delas. Essa estatística sugere que as decisões de trocá-lo em campo vão além de meras análises de performance. O clássico contra o Barcelona, palco do incidente, exacerbou a tensão já presente no Santiago Bernabéu, culminando em confusões entre os jogadores ao apito final.
Mesmo com 29 minutos a menos em comparação aos companheiros que completaram a partida, Vinícius Júnior demonstrou um desempenho notável contra o Barcelona, liderando em sprints de alta intensidade. Essa métrica, utilizada para avaliar o esforço do jogador, contrasta com as justificativas frequentemente apresentadas para suas substituições. Na atual temporada, Vini Jr. acumula cinco gols e quatro assistências, totalizando nove participações diretas em gols. Além disso, seu protagonismo se estende para além das estatísticas frias, com participações cruciais em lances decisivos, como nos jogos contra o próprio Barcelona e a Juventus. Sua capacidade de provocar expulsões, como ocorreu contra o Getafe, e de conquistar pênaltis, como na vitória sobre o Marselha pela Champions League, reforçam sua importância para a equipe.
A drástica redução nos minutos de Vinícius Júnior, quando comparada à temporada anterior sob o comando de Ancelotti, é um ponto de contestação. Em 2024/2025, o brasileiro figurava entre os sete jogadores mais utilizados, com 89% do tempo de jogo disponível, ao lado de craques como Mbappé e atrás apenas de nomes como Courtois, Valverde, Bellingham, Tchouaméni e Rüdiger. No entanto, na virada da temporada, essa métrica caiu significativamente para 75%, o que o coloca atrás de jogadores com menor impacto em campo, como Arda Güler, que detém 76% dos minutos.
Insatisfação Generalizada e o Exemplo de Vini Jr.
A insatisfação de uma parcela considerável do elenco com a gestão de Xabi Alonso e sua comissão técnica é um conhecimento compartilhado pelos responsáveis pela gestão futebolística do Real Madrid, incluindo o presidente Florentino Pérez. Essa percepção geral contribuiu para atenuar o impacto do desabafo de Vinícius Júnior. A distância entre a comissão técnica e os jogadores tem se tornado evidente no dia a dia do centro de treinamento em Valdebebas. Recentemente, o zagueiro Rüdiger chegou a expressar de forma contundente a insatisfação do elenco com a forma como a relação com o grupo tem sido conduzida.
Vale ressaltar que, apesar de ter sido o mais vocal, Vinícius Júnior não foi o primeiro a expressar publicamente seu descontentamento com as decisões de Xabi Alonso. No final de agosto, Rodrygo também demonstrou sua frustração ao ser substituído justamente por Vini Jr. na vitória por 3 a 0 sobre o Oviedo. Na ocasião, o atacante foi visto reclamando no banco de reservas para seus companheiros Militão e Alaba, visivelmente irritado.
Outros jogadores também já apresentaram declarações interpretadas como queixas às escolhas do treinador espanhol. O uruguaio Valverde, por exemplo, declarou antes de uma partida da Champions League que “não nasceu para jogar na lateral” e, curiosamente, não foi escalado no jogo seguinte. Camavinga, por sua vez, utilizou suas redes sociais para afirmar que sua posição de origem é de meio-campista, e não lateral-esquerdo, posição na qual tem sido improvisado desde os tempos de Ancelotti.
A Situação de Endrick e a Postura do Treinador
Endrick, jovem promessa brasileira, também se encontra em uma situação delicada, sendo um dos três jogadores do elenco que ainda não somou um minuto sequer em campo, ao lado de Mendy e Lunin. Seu futuro no clube parece incerto diante da falta de oportunidades. Apesar de ter se colocado à disposição para brigar por uma vaga no lado direito do ataque, o atacante de 19 anos segue sem ser acionado.
Em entrevista coletiva após a vitória no clássico, Xabi Alonso minimizou o desabafo de Vinícius Júnior, destacando o pouco diálogo com os jogadores. “Fico com muitas coisas positivas da partida, e muitas coisas do Vini também. Nós falaremos sobre isso, é claro, mas não quero perder o foco do que é realmente importante. São coisas das quais falaremos depois”, declarou o treinador.
Até a reapresentação do elenco na quarta-feira, o assunto não será abordado internamente, sinalizando uma decisão institucional de encerrar o caso. A iniciativa de trazer o tema à tona caberá ao treinador. O Real Madrid volta a campo no próximo sábado, no Santiago Bernabéu, para enfrentar o Valencia, às 17h (horário de Brasília), em partida válida pela 11ª rodada da La Liga. Atualmente, a equipe lidera o campeonato com 27 pontos conquistados em 30 disputados.

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