O empate sem gols entre Palmeiras e Cruzeiro, ocorrido neste domingo na 30ª rodada do Brasileirão 2025, serviu de palco para um desabafo contundente do técnico Abel Ferreira. A declaração pós-jogo do treinador português não se limitou à análise tática do confronto, mas se estendeu a uma crítica veemente à qualidade da arbitragem no futebol brasileiro, ecoando preocupações já manifestadas por outros colegas de profissão.
O técnico do Palmeiras iniciou sua coletiva de imprensa fazendo menção a uma declaração prévia de Leonardo Jardim, comandante do Cruzeiro, que cogitou sua permanência no Brasil devido a falhas recorrentes da arbitragem. Jardim, em especial, contestou a decisão do árbitro Rafael Rodrigo Klein por não ter expulsado o zagueiro palmeirense Gustavo Gómez em uma jogada mais ríspida contra Wanderson logo no início da partida. Abel Ferreira endossou o colega, compartilhando sua própria visão sobre a gestão do futebol nacional.
A Crítica à Gestão e à Arbitragem: Um Desabafo Necessário
Abel Ferreira utilizou a fala de Leonardo Jardim como ponto de partida para expor suas frustrações acumuladas. “Ele foi duro ao falar da arbitragem, do calendário, do sindicato, de tudo, queria falar a ele que é algo que falo desde que cheguei aqui”, iniciou o português. Ele reiterou seu compromisso em valorizar o futebol brasileiro, conforme detalhado em seu livro, mas ressaltou que a solução para os problemas não reside apenas em sua equipe ou nos jogadores. “Não depende de nós e dos jogadores isso, está na mão de quem toma decisão do futebol brasileiro”, enfatizou.
O treinador do Palmeiras questionou a profissionalização da arbitragem no país, classificando o corpo de árbitros como um “conjunto de amadores. Ele apontou inconsistências nos critérios de avaliação, citando exemplos recentes de polêmicas envolvendo árbitros como Ramon Abatti Abel e Wilton Pereira Sampaio. “Não é possível que um conjunto de amadores, não sei se é só isso de profissionalizar ou não, mas é algo profundo, até a CBF tem critérios diferentes para o Ramon Abatti Abel e para o Wilton, um vai para geladeira e o outro segue”, declarou, evidenciando uma falta de padronização que prejudica a credibilidade do esporte.
Desmistificando a Narrativa de Benefício
Abel Ferreira também aproveitou a ocasião para refutar as narrativas que, segundo ele, buscam pintar o Palmeiras como um clube privilegiado pela arbitragem no Campeonato Brasileiro. O treinador classificou essas opiniões como “hipócritas”, ressaltando que ele próprio já se sentiu prejudicado em outras ocasiões. “Eu me sentia em uma luta sozinho, me chamavam de chato, mas espero que agora ouçam o Leonardo Jardim, quem eu admiro muito, uma pessoa de valores, que fala e que com a idade que tem veio ao Brasil usufruir do bom ambiente daqui, da paixão do futebol, mas vemos que há muitos aspectos a melhorar”, disse.
O técnico argumentou que não existe um benefício direcionado ao Palmeiras ou a qualquer outro clube. Em vez disso, ele acredita que uma “narrativa hipócrita” é criada, transformando o líder do campeonato em um “patinho feio” para justificar outras questões. “Entendo meu colega, entendo pelo que passei no último jogo no Maracanã. Não há benefício de A, B ou C estar sendo beneficiado. Não é só o Palmeiras beneficiado, mas cria-se uma narrativa hipócrita, de criar um patinho feio, que está à frente no campeonato e criaram uma narrativa”, explicou.
Para Abel, a discussão precisa ser mais profunda e envolver critérios claros para todos os clubes. Ele citou um lance polêmico de pênalti em jogo do São Paulo, contrastando-o com uma jogada semelhante envolvendo Neymar e Scarpa, para ilustrar a falta de uniformidade nas decisões. “Precisa ter uma discussão e um critério para todos. O pênalti para o São Paulo poderia ser marcado, mas o Neymar teve um lance igual com o Scarpa e o que houve? É algo mais profundo que o Palmeiras, isso é o futebol brasileiro e os passos que têm que ser dados para o bem do futebol brasileiro”, concluiu.
Análise Tática e os Desafios da Recuperação
Apesar do foco na arbitragem, Abel Ferreira também comentou o desempenho de sua equipe na partida contra o Cruzeiro. Ele atribuiu as dificuldades encontradas à curta janela de recuperação após o jogo contra um rival direto na semana anterior, além da intensa participação na Copa Libertadores. O treinador destacou a boa marcação e a pressão exercida pelo Cruzeiro, que soube aproveitar o desgaste físico do Palmeiras.
“Primeiro, eu quero que entendam que o Cruzeiro é recheado de bons jogadores e um grande treinador. Eles pressionam bem a primeira fase de construção. Eles sabem que estávamos desgastados”, analisou Abel. Ele revelou que a preparação para o jogo contra a Raposa foi acelerada, com parte significativa do trabalho tático sendo realizada apenas na manhã do dia da partida. “Sabiam que tínhamos jogado contra um rival direto na última semana, Libertadores no meio e eles tiveram uma semana inteira para se preparar. Eu só preparei o jogo hoje de manhã. Não está certo e nem errado, mas eu preparei o jogo hoje de manhã. Ontem foi recuperação, anteontem eu cheguei de viagem, pedi uma pastilha pra dormir”, confessou, evidenciando as adversidades logísticas enfrentadas pelo Verdão.
Foco na Libertadores e a Crença na Virada Histórica
Com o resultado em casa, o Palmeiras agora volta suas atenções para o decisivo confronto da próxima quinta-feira pela Conmebol Libertadores. A equipe necessita de uma vitória com uma margem de gols superior a três sobre a LDU para garantir sua vaga na final da competição. Uma tarefa desafiadora, considerando que nenhuma equipe conseguiu reverter um placar tão elástico nesta fase do torneio sob o comando de Abel Ferreira.
Contudo, o treinador demonstra uma fé inabalável. Ele utilizou exemplos pessoais para ilustrar sua filosofia de encarar os desafios. “Para tudo há uma primeira vez. Se vocês perguntassem quando eu era pequeno sobre casar eu ia dizer que não ia conseguir, e consegui. Pensava, será que vou ter filhos? Consegui. Será que vou ser jogador? Consegui. Se outros conseguiram, eu vou conseguir, então o que eu posso dizer que o que me define e nos define não são os resultados e sim a forma como encaramos o resultado”, refletiu.
Abel Ferreira transmitiu uma mensagem de otimismo e resiliência à sua equipe e aos torcedores. “Podemos ter grandes vitórias e vamos sentar em cima disso? Não, podemos ter derrotas e o que nos define não é isso. O que nos define é o que vamos fazer quinta”, declarou. Ele enfatizou a importância da união e do apoio da torcida para a busca de um objetivo que, para muitos, parece improvável. “Eu acredito muito. Vocês podem escolher seu lado. As nuvens negras eu me afasto, porque não agregam nada. Como vim de muito baixo e consegui o que tenho com muito trabalho, eu acredito e tenho fé que vamos conseguir e precisamos da alma da nossa equipe que são nossos torcedores e vamos fazer tudo que conseguimos para conseguir o que poucos acreditam, mas eu acredito”, finalizou com convicção.

Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores







