A recente entrevista de Jordi Mestre, ex-vice-presidente do Barcelona, trouxe à tona lembranças de momentos cruciais na história recente do clube. Mestre, que esteve à frente do departamento de futebol entre 2015 e 2019, abordou a dolorosa saída de Neymar em 2017 e as mágoas que ainda persistem com a despedida de Lionel Messi em 2021. Segundo o dirigente, o brasileiro era visto como o sucessor natural de Messi, e sua transferência para o Paris Saint-Germain pegou todos de surpresa, gerando um impacto significativo no elenco e na diretoria da época.
As palavras de Jordi Mestre reacendem o debate sobre como o Barcelona lidou com a saída de seus maiores astros, especialmente em um período de reestruturação. A opinião do ex-dirigente reforça a ideia de que a estratégia do clube poderia ter sido diferente, focando em construir o futuro em torno de Neymar, após a saída de Messi. No entanto, o futebol, com suas reviravoltas e decisões de mercado, apresentou um caminho distinto, deixando um rastro de oportunidades perdidas e sentimentos de frustração.
Neymar: O Sucessor Inesperadamente Perdido
A transferência de Neymar do Barcelona para o Paris Saint-Germain, em 2017, permanece como um dos capítulos mais emblemáticos e controversos da história recente do futebol. Jordi Mestre, em sua análise retrospectiva, não esconde a decepção com o desfecho da passagem do craque brasileiro pelo Camp Nou. Mestre era um dos defensores da ideia de que Neymar possuía o talento e o potencial para herdar o protagonismo de Lionel Messi, assumindo um papel de liderança e se tornando a referência técnica e simbólica do Barcelona para as próximas décadas.
O ex-vice-presidente relembrou a confiança que depositava no jogador, chegando a afirmar com “200% de certeza” que Neymar permaneceria no clube. Essa convicção, contudo, foi abalada pela surpreendente oferta do PSG, que acionou a cláusula de rescisão de €222 milhões, valor que estabeleceu um novo patamar no mercado de transferências. A magnitude da negociação e a forma como ela se desenrolou deixaram um sentimento de impotência e surpresa não apenas na diretoria, mas também entre os próprios jogadores. Mestre relatou conversas com atletas importantes do elenco que desconheciam a iminência da saída de Neymar, evidenciando a falta de comunicação e transparência no processo.
Essa falta de comunicação contribuiu para um clima de incerteza e desconfiança dentro do vestiário. A percepção era de que o clube não havia conseguido reter um talento geracional, alguém que poderia ter liderado o time em um novo ciclo vitorioso. A saída de Neymar representou não apenas a perda de um jogador excepcional em campo, mas também a diluição de um plano de sucessão que parecia promissor, abrindo um vácuo de protagonismo que, posteriormente, seria novamente explorado por outro grande craque.
A Saída de Messi: Magoas e Um Legado Inesquecível
Quatro anos após a partida de Neymar, o Barcelona se viu diante de uma despedida ainda mais impactante: a de Lionel Messi. O ídolo máximo do clube, após décadas de serviços prestados e inúmeros títulos conquistados, deixou a Catalunha em 2021, em um desfecho que Jordi Mestre descreve como marcado por ressentimentos. Segundo o ex-dirigente, a família de Messi, assim como o próprio jogador, nutre mágoas em relação ao presidente Joan Laporta, pelo modo como a negociação e a saída foram conduzidas.
Mestre enfatizou a importância de Messi para o Barcelona, não apenas pelo que ele representava em campo, mas também pelo impacto financeiro e comercial que gerava. O jogador não era apenas um atleta de alto rendimento, mas um catalisador de negócios, atraindo talentos e investimentos para o clube. A declaração de que “Tudo o que fizermos por Messi será muito pouco” ressalta a gratidão e o reconhecimento que deveriam permear qualquer negociação com o craque argentino. A revelação de que “Messi e sua família estão muito bravos com Laporta”, obtida por terceiros, expõe uma ferida que ainda não cicatrizou.
A crise financeira que assola o Barcelona nos últimos anos foi apontada como o principal obstáculo para a renovação do contrato de Messi. As dificuldades econômicas e estruturais foram apresentadas como motivos para a impossibilidade de manter o jogador no clube. No entanto, a forma como essas questões foram comunicadas e as promessas não cumpridas deixaram marcas profundas. Mestre defende a necessidade de um reconhecimento à altura do legado de Messi, propondo, por exemplo, que uma das arquibancadas do Camp Nou seja batizada em sua homenagem, um gesto simbólico para eternizar a memória de um dos maiores jogadores da história do futebol e do próprio clube.
O Impacto da Transferência de Neymar e as Lições do Passado
A transferência de Neymar para o PSG em 2017 não foi apenas um recorde financeiro, mas um divisor de águas para o Barcelona. A saída do brasileiro, após um período de glórias ao lado de Messi e Luis Suárez, gerou um sentimento de que uma oportunidade de ouro para construir o futuro em torno de um novo trio de ataque espetacular foi desperdiçada. Jordi Mestre lamenta o fato de o jogador não ter “dado certo” no Barcelona, pois acreditava firmemente em seu potencial para se tornar o principal nome do time após a aposentadoria de Messi. Essa visão era compartilhada por muitos, que viam em Neymar a combinação de talento, habilidade e carisma necessários para carregar a tocha.
O dirigente aponta que a falta de transparência na negociação com o PSG, que culminou na colossal cláusula de rescisão, demonstrou uma falha estratégica por parte do clube catalão em proteger seus ativos mais valiosos. A surpresa geral, inclusive entre os jogadores, sugere uma desconexão entre a diretoria e o elenco, além de uma subestimação da capacidade de outros clubes em oferecer propostas irrecusáveis. Essa experiência serviu como um doloroso aprendizado sobre a importância de planejar a sucessão de estrelas e de manter uma comunicação clara e aberta com todos os envolvidos.
A história de Neymar no Barcelona, marcada por um fim abrupto e surpreendente, serve como um lembrete de como as decisões de mercado e a gestão de talentos podem moldar o destino de um clube. A busca por um sucessor para Messi, iniciada com a esperança em Neymar, e a posterior saída do próprio argentino, deixam um legado de reflexão sobre as estratégias adotadas. O futebol é dinâmico, e a capacidade de adaptação, planejamento a longo prazo e, acima de tudo, a valorização de seus ídolos são fatores cruciais para a sustentabilidade e o sucesso de qualquer equipe.

Escritor especializado em cobrir notícias sobre o mundo do futebol. Apaixonado por contar as histórias por trás dos jogos e dos jogadores







