A torcida do Flamengo pode ter se acostumado a vitórias tranquilas em fases decisivas da Libertadores, mas o confronto contra o Racing, válido pela semifinal, foi exatamente o duelo aguardado pelos analistas e fãs do futebol. Em uma partida de extrema dificuldade e muita disputa, a noite foi marcada pela performance individual de um jogador que se destacou como a grande novidade na escalação inicial, mas que deixou uma mensagem clara para o treinador: o talento de Carrascal merece um lugar entre os titulares. O placar final de 1 a 0 para o Rubro-Negro, em um Maracanã vibrante, reflete a intensidade do jogo e a importância do gol solitário que define a vantagem para o duelo de volta.
Carrascal: A Estrela Inesperada que Brilha na Libertadores
O jovem colombiano não demonstrou nenhum traço de intimidação ao fazer sua estreia como titular em uma partida de Copa Libertadores. A atmosfera eletrizante do Maracanã, com mais de 71 mil torcedores impulsionando o time com seus cantos, serviu como combustível para uma atuação memorável. O ponto alto de sua performance foi, sem dúvida, o gol que garantiu a vitória, coroando uma exibição de gala. Carrascal demonstrou versatilidade e inteligência tática, atuando com desenvoltura em diferentes posições do setor ofensivo, adaptando-se com fluidez a todos os seus companheiros de equipe e criando jogadas de perigo constante.
Enquanto em outras ocasiões um placar apertado em casa poderia ter gerado apreensão e vaias por parte da arquibancada, o sentimento no estádio ao final da partida contra o Racing foi de profunda confiança. Aplausos efusivos e os cânticos de “seremos campeões” ecoaram pelo templo do futebol, em reconhecimento ao esforço e à criação de diversas oportunidades de gol, mesmo que o placar final tenha sido magro. O resultado de 1 a 0 carrega consigo a promessa de um duelo emocionante na Argentina na próxima quarta-feira, quando a equipe buscará consolidar a vantagem.
Análise Tática: Mudanças e Sinergias em Campo
O técnico Filipe Luís optou por introduzir três alterações significativas na escalação em comparação com o time que havia derrotado o Palmeiras. Varela assumiu a lateral direita em substituição a Emerson Royal, Danilo entrou na zaga no lugar de Léo Ortiz, e a grande surpresa foi a escalação de Carrascal no lugar de Samuel Lino. Enquanto Danilo mostrou solidez defensiva e Varela teve uma atuação discreta, com o lado direito do campo apresentando pouca produção ofensiva, o setor esquerdo se destacou como o principal corredor de escapes do Flamengo. Essa dinâmica pode ser explicada pela forte sintonia já existente entre Arrascaeta e Carrascal, uma parceria que provou ter potencial para ser ainda mais explorada pela equipe.
Apesar de Carrascal ter iniciado a partida mais atuando pela esquerda, a troca de posições e as associações com o uruguaio Arrascaeta foram constantes ao longo do jogo. Embora o camisa 10 não tenha vivido sua melhor noite e tenha permanecido um tanto apagado em diversos momentos, ele se mostrou perigoso sempre que se aproximou da área adversária. A falta de calma e a escolha inadequada de jogadas em algumas conclusões foram pontos a serem aprimorados para que o potencial ofensivo fosse plenamente explorado. A partida também evidenciou que o Flamengo não pode ser considerado dependente apenas de Arrascaeta e Pedro. A entrada de jogadores vindos do banco de reservas foi crucial para que o time retomasse o controle da partida e imprimisse maior velocidade.
As substituições promovidas por Filipe Luís se mostraram estratégicas. Samuel Lino, que não vinha em uma performance ideal, entrou no segundo tempo e agregou dinamismo ao ataque, assim como Plata, que também melhorou a fluidez ofensiva da equipe. Bruno Henrique, por sua vez, foi o único que não conseguiu se encaixar tão bem, atuando em uma posição mais recuada após a saída de Arrascaeta. O treinador comentou sobre a escalação de Carrascal, destacando seu encaixe no plano tático: “Ele encaixava muito no plano de jogo do que eu pensava, onde poderíamos machucar a defesa do Racing e passava muito pela posição que o Carrascal estava ocupando no campo no primeiro tempo. E também pensando numa troca, numa eventual troca no segundo tempo, para o Lino já pegar o lateral mais cansado, com o jogo mais aberto, eu acredito que funcionaria melhor com essa estratégia”.
O Jogo: Luta, Erros e a Redenção no Final
O primeiro tempo foi marcado por momentos de apreensão para o Flamengo. O Racing apresentou uma atuação taticamente sólida e fisicamente intensa, apesar de apresentar deficiências técnicas. Erros na saída de bola da equipe rubro-negra, como os cometidos por Jorginho, proporcionaram as primeiras oportunidades de gol para a equipe argentina. A primeira chance clara de gol do Flamengo surgiu aos 15 minutos, com uma jogada iniciada pelo lado esquerdo, envolvendo Léo Pereira e Alex Sandro, e culminando em Carrascal invadindo a área de forma livre. O goleiro do Racing, um dos destaques da partida, realizou uma defesa importante, demonstrando que seria difícil superar sua meta.
O goleiro Rossi, mais uma vez, demonstrou segurança, realizando uma intervenção espetacular na melhor chance de gol do Racing. Após essa jogada, que se originou de um escanteio, o goleiro buscou conversar com os zagueiros Rodrigo Caio e Filipe Luís sobre a bola parada, um ponto de atenção para o jogo de volta. A dificuldade de infiltração do Flamengo, somada à lentidão nas transições, permitiu que a defesa argentina se organizasse bem. Arrascaeta acertou uma bola na trave aos 20 minutos, e Pedro teve duas boas oportunidades no final do primeiro tempo, mas não conseguiu converter.
O Segundo Tempo e a Vitória Conquistada
Filipe Luís manteve a escalação para o segundo tempo, mas realizou as primeiras alterações promovendo as entradas de Ayrton Lucas e Plata nas vagas de Alex Sandro e Luiz Araújo. O objetivo era melhorar a dinâmica ofensiva pela direita e explorar o corredor esquerdo do Racing, o que se mostrou eficaz. Durante a segunda etapa, Carrascal atuou em momentos mais recuados, permitindo que Arrascaeta tivesse maior liberdade próximo à área. As subsequentes substituições, com a entrada de Lino e Bruno Henrique nas vagas do uruguaio e de Pedro, respectivamente, impulsionaram Carrascal, que esteve quase onipresente em campo, a atuar mais pela direita, com Bruno Henrique assumindo a função de armador.
O aumento dos erros na partida, combinado com a insistência do placar zerado, começou a gerar impaciência no Maracanã, que via a equipe aflita. Os cantos de “Mengo” ganharam força e pareceram surtir efeito. O meio de campo, que havia funcionado tão bem contra o Palmeiras, mostrou fragilidade em alguns momentos da Libertadores. Jorginho e Pulgar, presos na marcação, tiveram menos participação no apoio ao ataque, o que contribuiu para a lentidão nas transições do Flamengo. No entanto, o chileno se destacou em um passe preciso para Samuel Lino, que avançou e marcou, mas o lance foi anulado por impedimento.
As chances criadas pelo Flamengo eram evidentes, mas a escolha errada das jogadas frustrava a torcida. A persistência, contudo, foi recompensada em um lance crucial iniciado por Carrascal. O colombiano lançou Bruno Henrique, que, após perder uma chance clara, viu a bola sobrar para ele mesmo, que finalizou para abrir o placar, concretizando um resultado merecido. A sensação ao final da partida, diante das reações da torcida e das declarações pós-jogo, foi de que o placar de 1 a 0 foi justo, considerando a dificuldade do confronto. Filipe Luís, mesmo definindo a vantagem como “simbólica”, elogiou a maturidade e a confiança demonstradas pela equipe: “A vantagem é simbólica. Ela existe claro, mas ela é simbólica para nós ou para mim, eu não conto com ela. Vamos da mesma forma, tentar vencer da mesma forma que foi contra o Internacional, da mesma forma que foi com os Estudiantes e agora contra o Racing. Sabíamos da força do Racing, principalmente nos contra-ataques, das transições muito forte que eles têm, todos vimos contra o Fortaleza na fase de grupos, todos vimos na Recopa, contra o Botafogo, o poder que esse time tem em transições. Então é importante construir essa vitória, criar chances, e assim fizemos. Criamos as chances, o gol veio no final, queria que o gol tivessem vindo antes, mas foi um jogo completo em muitos aspectos da equipe, uma equipe madura e que está com muita confiança”.

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